NAU DOS ETERNOS.
Acredito que o homem ainda embarcará numa nau que o leve às calmarias do sensato, dentre tantas ancoradas no cais das ilusões: velozes, fascinantes, sedutoras, disponíveis e perdidas.
À escolhida restarão os escolhidos e será movida pela brisa da lucidez de encontro às velas da paciência.
Partirá numa velocidade constante, de meditações ou de cozimento de cérebros inóspitos, arredios.
Oxalá, seja uma viagem tranqüila para o homem, mesmo que as marolas se tornem monstruosas ondas, ondas que sacolejam a embarcação, que causam enjôo, mas que motivem essa odisséia humana.
Tomara que o homem, à mercê do mar revolto, reconheça sua pequenez.
Oxalá, reconheça a tripulação, seu Timoneiro como único e Nele deposite toda a fé, e se deixe conduzir para o cais da temperança.
Que a tripulação não se perca com as tribulações, não se contagie com a vaidade, não se disperse, não se confronte, não se digladie, pois nada, a não ser a água salmoura, seus famintos habitantes e precipícios rodeiam a nau da existência.
São séculos e séculos de navegação em busca do ouro, de especiarias e dogmas e nunca em busca de si mesmo...
Tomara que a cada amanhecer os navegantes agradeçam.
O próximo cais a ser atracado é o da humanização do homem e não das gaivotas e corvos de estimação, ou da própria nau.
Piratas, tormentas, monstros mitológicos e náuseas serão vencidos pela sensatez, serenidade, sabedoria e obediência a um único Senhor.
Tomara que nas infindas noites, em alto mar, mesmo encoberto por névoas glaciais, o éter estrelado oriente as gerações sucessivas e que cada tripulante da próspera nau descubra que como o sol, cada um tem seu brilho próprio.
Oxalá! Tomara! Amém...!
Aos tubarões das eras não importa a cor do seu sangue...
Aos precipícios abissais são irrelevantes seu peso, sua beleza ou posses...
Ao mar são indiferentes sua filosofia, o seu credo... só fará diferença a quem você se apegou durante sua epopéica viagem e a quem você recorre na hora da sua morte...
Amém...!