SIMPLESMENTE FLORES. Indiferentes, mas não diferentes. Adaptadas aos espinhos do ofício Escolhem o vermelho-paixão que inebriam, Para as irresistíveis pétalas que vestem E como flores, não falam... fingem! Exalam finos perfumes, tão eficientemente, Que os abstinentes e sedentos, Extáticos se deleitam e se deixam levar... E se lambuzam como crianças... Rusticamente, afloram nos jardins públicos, Onde florescem e são defloradas. Daí é um eterno vestir-se e despir-se... Expostas ao bem-me-quer-mal-me-quer Dos peões, infratores, bêbados e patrões E, comumente, ao mal-me-quer dos cônjuges Incautos, Espalham seus aromas de cio, Até que lhas atirem a primeira pedra. Contam que se dão no ofício mais antigo, Odiadas, malditas... Mas toleradas, por serem tão necessárias.
Avivam as noites, as praças, becos e muros. Avessas aos altares e lares evitam o beijo, Pois temem se envolverem E serem traídas pelas peripécias Do próprio ardil. Adeptas ao mato, alheias aos carrapatos cumprem suas sinas: Encantam, iludem, saciam, vendem-se e, portanto pecam. Poupadas, pelo fato de que todos erram, Quando colhidas formam buquês... e arranjos... e mimos... E, inevitavelmente, pelo menos uma vez na vida, por tantos foram cheiradas. Então, o desprovido de olfato, Que arranque a primeira pétala! (RAS)
Enviado por (RAS) em 05/01/2008
Alterado em 30/01/2023 |