Imersões em um rio chamado tempo…
O sol queimava a pele dos moleques, em plena banca de areia, A draga barulhenta , de forma lenta, o raso rio desassoreia. Águas ébano, conduziam suas entidades e lendas, de carrancas à sereia… O caboclo d’água de pelos negros, olhos negros e unhas marfim, Fiel atalaia, puxava para o fundo os que não temiam Iara, enfim… Ninguém com coragem de nadar a noite, desafiando aquelas fortes garras, assim… A mãe d’água, Iara, liderava o pequeno reino de locas, submersas em labirintos sem fundos, E eu vivia a fantasia dos contos que regiam o imaginário dos dois mundos… O caboclo d’água que assustava, guardava os segredos do rio profundo, Um rio de águas turvas, de remansos misteriosos, que não davam pé… As moitas de bambu, que causavam terror, estremeciam a minha pouca fé. A gata que de noite ia ali, dar de mamar a uma víbora gorda e grande… E quando a gata não ia, a serpente espreitava as crianças, sempre as recalcitrantes. Havia uma noiva, que a meia noite o rio descia, com estridente canto, remando uma canoa… Criança que tarde vai dormir e na cama faz xixi, a noiva não perdoa… E a lua cheia refletia aquela imagem, a torná-la mais horripilante, que o grito que da sua voz soa. Redemoinhos atraíam tudo o que ali se atrevia, ao passar à toa, Na enchente da goiaba, o rio vazava, pois se assoreava com qualquer garoa… Nesses homéricos cenários, eu consegui sobreviver, de boa! Tão marcantes foram esses tempos, que é onde meu pensamento, hoje, atento, sobrevoa… E onde o meu grito de medo, agora sem medo, naquelas enigmáticas margens , Graças aos céus não mais ressoa. Apenas a dolente voz da saudade, no meu peito resiste e ainda insiste e nesse vácuo, em minha alma ecoa!!! (RAS)
Enviado por (RAS) em 04/04/2023
Alterado em 05/04/2023 |