Interlúdio: entre a ribalta e o camarim.
Rios seguem sem os peixes, peixes não logram viver sem os rios, Os bares estão sempre cheios, mas na verdade, cheios de vazios.
As canções agarram-se aos enormes tentáculos das saudades, Nos marejados olhos, destarte, fulgem remotas recordações, E perdem-se nos angustiantes vulgos mundos das possibilidades, O que ilude, corta, inflama e desalinha, vulneráveis corações.
Cai a noite e a lua posiciona-se pálida, no além proscênio, E as estrelas ignoradas pelos homens tristonhos e cabisbaixos. A noite é o palco onde atua e perde-se o infeliz boêmio, Enquanto a bebida sobe, o astral destoa, cada vez mais baixo…
Os vazios tudo ocupam e cada qual o preenche a seu jeito, Uns se isolam, uns bebem, mas no fundo todos eles choram. Difícil matar a saudade, de um grande amor, cravado no peito, Enquanto o coração e a solidão, pelo já tão ido amor imploram.
Às margens do abandono está aquele que de todo se entrega, E também às noites frias, infindas e a prantos propensas, Aos amigos de açodadas desventuras em vão se apega, Se o coração comanda, são as noites tristes, vazias e imensas!
O sol promissor de súbito torna-se instrumento de tortura, O dia passa lento como um ferro em brasa pelas tênues epidermes, O corpo em frangalhos, sofrido, a fuga e o alívio procura, Pelas luas cheias, nas quais agem e proliferam-se os vermes.
Vida, vida! Entre curas e feridas, entre remansos e redemoinhos, Entre adeuses de partidas, entre e o vinagre e o vinho, Entre amargas despedidas, entre o rumo e o descaminho, Entre as sinas a menos querida, é a amargura de viver sozinho. (RAS)
Enviado por (RAS) em 25/12/2022
Alterado em 27/12/2022 |