(RAS)

Nem tudo que reluz é ouro. (Mas reluz!)

Textos


 

Sobre trilhos mundanos.

 

      Os trens que por meus trilhos passaram, traziam poeiras e notícias de mundos distantes…

Uns até apitavam… outros, apenas “Marias Fumaças”… que só fizeram arruaças e, para fazer fumaça, bastava o meu “di paia”.

     Tantos trens! Uns chegaram a infernizar… em cada composição, desarranjos e desassossegos…

     Eu na estação, quantas vezes me arrumei de ir embora, com roupas de missa e coração na sacola… Mas, através da espessa fumaça, eu conseguia enxergar a fria estrutura férrea e entre as engrenagens e barulheiras eu pressentia meus imbróglios…

     Minha vida sempre esteve entre o apito da apocalíptica figura e o triste som do berrante que chama mais a mim, que a própria boiada…

     Aventurei e tomei sim alguns trens, contrariando o combinado e percebi quão caro saíram as passagens! 

     Do trem que chega, apeiam-se promessas e novidades, naquele que parte, sobem as incertezas e as brutas saudades. 

     Vi muitos “trem bão” circularem, mas por dentro tão vazios e a levar nada a lugar nenhum: trens fantasmas, a ameaçar as consistências dos trilhos e dormentes, a derribar estações e gares…

Ah, meus misteriosos trens! Como madrugaram! Como se esticaram, meus trens! 

     Gostaria de saber qual deles surgirá pela serra, para conduzir-me pela inadiável e última partida...

(RAS)
Enviado por (RAS) em 21/06/2022
Alterado em 21/06/2022


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