(RAS)

Nem tudo que reluz é ouro. (Mas reluz!)

Textos

A chance nossa de cada dia.

E o homem se faz de forte, urra e excede,
Forja seu território com repulsas e com o odor fétido de sua intransigência,
Fecha-se em seu mundo selvagem à espreita de seu próximo.

Com jubas, garras e presas se lança à batalha pelo sucesso.

Produto genuíno de uma selva inóspita,
Onde a caça, mesmo que farta, não é dividida
E só admite a sobra, para os da sua linhagem ou estirpe.

Cai a noite...
Revezam-se silêncio e sons medonhos...
É quando ele se deita em sua jaula solitária e raciocina...
É quando tem tempo para seus medos e insegurança,
É quando com sua carcaça fadigada e vulnerável,
Teme ser devorado pelos insetos.
Então, aos poucos, assume a posição fetal,
Arremete-se ao aconchego de sua concepção,
Do seu período pré-natal, quando por alguns meses submeteu-se a outrem.

Flutua em seus pensamentos
Como se o líquido amniótico fosse.

E sob o calor dos cobertores,
Clama, inconscientemente, pela proteção das seguras entranhas maternas,
Num misto de covardia e carência de quem mal arrumou a própria cama,
De quem mal preparou seu próprio habitat.

É uma paz deveras inquieta...

E rompe a impiedosa e fria aurora...
E o despertador são contrações anunciando a chegada da “boa hora”
E a responsabilidade, como fórceps, arranca-lhe para os braços da vida
Que mesmo com tantos e violentos tapas,
Não lhe permite um segundo choro...



 
(RAS)
Enviado por (RAS) em 24/11/2007
Alterado em 07/01/2020


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