A chance nossa de cada dia.
E o homem se faz de forte, urra e excede, Forja seu território com repulsas e com o odor fétido de sua intransigência, Fecha-se em seu mundo selvagem à espreita de seu próximo. Com jubas, garras e presas se lança à batalha pelo sucesso. Produto genuíno de uma selva inóspita, Onde a caça, mesmo que farta, não é dividida E só admite a sobra, para os da sua linhagem ou estirpe. Cai a noite... Revezam-se silêncio e sons medonhos... É quando ele se deita em sua jaula solitária e raciocina... É quando tem tempo para seus medos e insegurança, É quando com sua carcaça fadigada e vulnerável, Teme ser devorado pelos insetos. Então, aos poucos, assume a posição fetal, Arremete-se ao aconchego de sua concepção, Do seu período pré-natal, quando por alguns meses submeteu-se a outrem. Flutua em seus pensamentos Como se o líquido amniótico fosse. E sob o calor dos cobertores, Clama, inconscientemente, pela proteção das seguras entranhas maternas, Num misto de covardia e carência de quem mal arrumou a própria cama, De quem mal preparou seu próprio habitat. É uma paz deveras inquieta... E rompe a impiedosa e fria aurora... E o despertador são contrações anunciando a chegada da “boa hora” E a responsabilidade, como fórceps, arranca-lhe para os braços da vida Que mesmo com tantos e violentos tapas, Não lhe permite um segundo choro... (RAS)
Enviado por (RAS) em 24/11/2007
Alterado em 07/01/2020 |