(RAS)

Nem tudo que reluz é ouro. (Mas reluz!)

Textos

 

Folia de Reis

 

“Ô sinhorá dona de casa

Ô sinhorá dona de casa

Oi faz favor pegar bandeira

Oi faz favor pegar bandeira.”

 

     Lembro-me da minha primeira infância…

A Folia de Reis, em cortejo a pé, de casa em casa cantando esse louvor, do qual só me lembro desse refrão. Cantavam olhando para os quadros de santos, havia um mais agitado e dançador que representava o tinhoso e “chei di mé”…

     Havia a sacolinha, tipo um coador de café pendurado na ponta de um cabo de vassoura, para recolher as esmolas, ou gratidão. O fato é que eram gente simples demais, mas a gente seguia e se deliciava com tudo.

     Depois era a nossa vez, prestávamos bastante atenção nos detalhes, havia alguns foliões que choravam mesmo, então pegávamos latas, nos fantasiávamos parecidos ao máximo com a trupe. Quando eles saíam nós pedíamos licença e entrávamos repetindo todo o ritual e ganhávamos a coisa mais difícil daquele tempo, que eram moedas (dinheiro) dos mais velhos, tinhamos entre seis e nove anos de idade. Muitas crianças “morriam” de medo, corriam para dentro de casa.

      Com razão, os antigos valorizavam em demasia o dinheiro, eram tempos difíceis, mas uma época de muita diversão e cultura, muitas festas, principalmente religiosas, poucas contendas, muito respeito.

      Lá estava a senhora dona de casa a ostentar a Bandeira do Divino Espirito Santo e as figuras dos três Reis Magos, já com o dinheirinho na mão, eu me lembro também de São Sebastião, mas havia outros santos e outras bandeiras também. Hoje são raridades essas manifestações de um povo genuíno e de muita fé.

     O ritual era um castigado violão, acompanhado de um surrado pandeiro de pele de animal, não havia ainda o material sintético naquela época, muitos gatos sumiam, principalmente época de carnaval. Atualmente estão mais sofisticadas as Folias de Reis.

     Hoje, são apenas lembranças que rolam em forma de lágrimas e daqueles tratores socadores passando por sobre um peito saudoso de um tempo que insiste em não se aquietar e permanecer passado e dobrado nas gavetas da memória, de tão bom que foi!!!!

 

 

(RAS)
Enviado por (RAS) em 06/01/2022
Alterado em 06/01/2022


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras