Pelas bravezas e bravuras de um velho amigo rio.
Lá vai a canoa
Sem estibordo, sem bombordo, sem proa,
Com quatro metros de areia…
Lá vem a canoa…
A transpor o coração da pessoa,
Que de mais rasa vida anseia.
Haviam peixes e caboclos d’água,
Vidas nuas, cruas e sem mágoas…
Se nas cheias o rio vaza,
Rompe muro, invade casa,
São apenas consequências…
Selvagem, no seu pedido de socorro,
Indômito, inunda várzeas, encobre morros,
Em eficaz demonstração de resistência.
Mas um remanso o rio ainda franqueia,
Um rio de sonhos rasos, sonhos factíveis nos acasos
Das finas, grossas e médias areias.
O coador e o remo pesados careciam ser dominados,
Quais corações de meninas…
E o rio de águas escuras, acolheu tantas travessuras,
Fez parte de tantas sinas!
Turvo reino de Iara, onde lavei minha cara,
Fiz fieiras de molinas.
E como uma nau aprendi flutuar…
Sentindo-me acolhido pelas garras do mar…
Ali nadei, mergulhei, fui Tarzan,
Acendi velas pra Iansã.
Temi as tocas dos medonhos caboclos d’água,
Que sugavam quem à noite navegava…
O que ninguém tal crença desafiar; ousava.
À banca rumava a canoa cheia, paciente,
A favor ou contra a corrente…
Quiçá um dia ser uma elegante escuna?
Que rasgasse as águas mansas,
Antes das vis lambanças, e das ressentidas lembranças,
Do doce moço Paraibuna.