Reveses.
Entre pensamentos assaz contritos,
Sobre ensejos e desejos aflitos,
Ruge e tange no vazio esse grito,
Numa saudade aguda, absurda a arder!
Entre quereres vorazes, portanto, contidos,
Sem rumo, sem plumo, pelo mundo perdidos,
Entre lembranças, heranças dos tempos já idos,
Faz-se aflito, desdito, o distanciado prazer.
Eis um jogador a implorar a sorte arredia,
Um caçador que a caça de súbito desvia,
O documento rasurado sem segunda via,
Um zumbi sedento ao relento do anoitecer.
Em devaneios e anseios a vadear perdido,
Na esperança que alcança, cegamente, esquecido,
De boas cartas, precocemente, desprovido,
As que restaram enganaram, por na manga reter.
Revelado na foto preto e branco, triste e fria,
A solidão na multidão, na noite escura se fazia,
O emergir da precisão, da suma carestia,
Um lavrador de ilusão que só a dor pôde colher.
E o grito ainda ecoa, à toa, sem qualquer finalidade,
Um grito que ressoa pelos vãos da eternidade,
Que troveja, relampeja, prenunciando tempestade,
Um grito tão restrito, que tão somente faz chover.