(RAS)

Nem tudo que reluz é ouro. (Mas reluz!)

Textos

Crônica 
Um comportamento típico tupiniquim.

     Você é aquele cidadão que rala o dia inteiro ou não, mas continua cidadão, mas em ambas as situações sociais citadas, você não deixa de dar aquela passadinha básica no boteco. Não há coisa melhor, para jogar conversa fora. 
     Mas você, o protagonista dessa crônica, tem uma vida boa, casado e  com uma filha, já maior de idade, e um adolescente, você já é um senhor, bem empregado. Chega até deixar um dinheirinho bom com a esposa, para as expensas dela. Lá se vão muitos anos de casado, tudo bem tranquilo. 
     Um cara de boa aparência física e também aparentando ser financeiramente bem aquinhoado, devido às belas roupas que usa, causa um certo ciúme na galera por, do nada, aparecer no bairro e sabe-se como é o bairrismo, as pessoas sempre desconfiadas.      
     Por coincidência (ironia), numa tarde-noite, ele encontra com você, no frequentado boteco local. A conversa rola de bom grado, o novato impressiona a todos, com a sua desenvoltura. Chega a hora mais “margosa” que cachaça com raiz, que é a hora da conta; e o que se sucede? O novato mete a mão no bolso e paga aquela conta, que até pela presença e participação dele havia ficado cara. O sujeito se retira. Esse fato se repete por vezes, com o bon-vivant sempre assumindo a temerosa. Pronto, de causador de ciúmes, só falta agora ser canonizado, os frequentadores do bar dizem que ele é “o cara”. Quando chega no bar é rodeado por todos, recebe tapinhas nas costas, alguns até o abraçam.
     A fama do cara já era tão grande, que se pode cravar aqui que se caso ele se candidatasse, pelo bairro, sem dúvidas, seria eleito, a até para Presidente.
    Os repórteres do bairro de plantão, geralmente desempregados, aposentados e carolas, começam a observar que o caridoso pagador de contas é visto várias vezes, estranhamente, próximo a sua casa, sim, sua mesmo. Sempre alegre e já muito bem quisto no bairro. Mas o camarada ainda é uma figura enigmática, mas quem quer saber disso? O cara é o cara, não há outra coisa a dizer. Você, principalmente, é que o idolatra, afinal, você tem com ele um tratamento diferenciado.
     Mas ele, o nosso querido amigo, diz ter um sítio, com umas vacas e onde há muitas parreiras de uvas e traz boas quantidades para você e você leva para casa e sua filha e esposa adoram.
     Assim essa rotina estende-se. E você e os frequentadores do bar tornam-se cada vez mais fãs de carteirinha do coração enorme que é esse sujeito do bem. De vez em quando ele traz um tira gosto diferente e diz ter abatido uma de suas vacas e que não podia deixar de lembrar dos amigos e todos participam. 
     Anos mais tarde, depois de trazidas para você muitas uvas temporãs, e já dono de sua veneração, por conta de rodadas e rodadas pagas de cervejas, o agora com razão, descuidado Dom Juan é visto saindo de sua casa várias vezes… mas trata-se de uma pessoa boníssima e com certeza sua família já o conhece e, certamente, causou neles a mesma admiração e também teria mais três votos. Vixe!
     Conclusão: sem você saber, o bonitão transava com sua esposa, ela o mantinha com o bom dinheiro que você dava a ela, ele levava drogas para o seu filho e assediava a sua filha, com essa, não se sabe até onde ele chegou, e levava uvas para você que ele comprava com o seu dinheiro, você pode entender com quem ele se informou sobre as uvas? Esse realmente nunca teve um sítio, mas soube-se também que nunca trabalhou. 
"Uma sutil metáfora para os que creem no slogan: “rouba, mas faz”. Chupa que é doce!”.

     Moral da historinha: Enquanto vierem as dulcíssimas uvas, melhor manter as fontes e o chifre invisíveis!

 
(RAS)
Enviado por (RAS) em 14/03/2021
Alterado em 14/03/2021


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