Com o tempo...
Há tantos sonhos de voltas, levados nos bornais...
E de pura felicidade nos recém formados casais…
Vazios, ainda vazios, aos poucos sendo preenchidos…
Há tantas esperanças nas soleiras dos portais,
Começos e recomeços saborosos… coloridos,
Nas tácitas intenções dos melodiosos madrigais…
Há tanta cumplicidade nos primórdios de tudo!
É tudo tão macio, aconchegante, pelúcias, veludo…
Há flores, amores sem dores, contagiantes delicadezas...
Há espontâneo prazer, de percalços desnudo,
Diversão, azar e sorte, nesse mundo de raríssimas certezas,
E a vida assim prossegue, como no lúdico jogo de ludo.
As tantas vidas pela frente refletirão as de outrora!
Há tanta vida pela frente que depende do agora!
Há tanto o que arar, plantar, proteger, mimar, regar!
Há tantos reveses por esse mundo insano afora,
Dos muros dos castelos não se pode descuidar,
São tão vulneráveis e perigosos, tal qual a caixa de Pandora.
Com o tempo, águas furam consistentes rochedos,
Com o tempo há de extinguir falácias e os crassos arremedos,
O tempo é do Espírito morada e, da matéria, senhor.
Com o tempo a erosão é cinzel a moldar os penedos,
Tempo, tão paciente é o tempo, dos destinos o domador,
Com o tempo castos tornam-se os indizíveis segredos.
O tempo traz saudades, lembranças de outros tempos idos,
O tempo já foi deidade e por outros mundos diluído,
Assombra os mortais, por ser um mistério profundo,
Tudo o que nasce, a mercê desse tempo mantem-se retido,
O tempo espalha sementes, pelos quatro cantos do mundo,
O tempo não se pode reter, tão somente existe para ser vivido.