(RAS)

Nem tudo que reluz é ouro. (Mas reluz!)

Textos

60s and 70s.


Deixa eu voltar ao tempo dos bons sambas, dos maravilhosos enredos, da autenticidade das comunidades, das magias guardadas em Cartola, dos fins de semanas, embalados à vitrolas... do dolente e unhado cavaquinho de Nelson...
Águas retiradas em caçambas, para as cacimbas, a matarem a sede dos bambas...
Deixa eu rever as tardes de folguedos e gritos eufóricos de crianças que ecoavam esperança, quando raiavam as espinhas e ia-se a infância...
Deixa eu voltar às madrugadas tranquilas, dos pães e leites nas janelas, das casas sem muros, do mestre de jaleco, que com apenas um olhar, sossegava o facho dos exaltados pupilos... quando a régua era usada para outras medidas, até de valores maiores...
Tempo dos festivais, cultura fervilhando… Bossa Nova, Jovem Guarda, Tropicalha… tempo do melhor Clube: o da Esquina! Diziam que o samba ia morrer… ledo engano!
Tempo de rodar pneu e roda de manivela... haviam sim, inocentes e imperdíveis novelas, domingos de missa, do frango e macarrão... tempos dos pontos corridos… da zebrinha, gooool do Silva! Endiabrava-se a Nação!
Deixa eu voltar as pracinhas com coretos, realejos, retratistas e as bandinhas… momentos registrados em monóculos,
À Aparecida, as inesquecíveis romarias... Meus pais, meus avós… A adolescência flamejava, ardia!
Deixa eu voltar à simplicidade: dos cobertores de retalho, das roupas doadas, que eu agradecido vestia…
Coragem! Muita coragem e, literalmente, pés no chão! Quando deixar comida no prato era pecado… quando o melhor do prato comia-se por último… tempos de dificuldade, de se esmerilhar as arestas... mas de pleno burilamento! 
Sonhos adolescendo e nos deixando mais lobos e bem bobos! Ria-se e dormia-se à toa… hoje sabe-se o porquê.
Deixa eu voltar lá, aos primeiros flertes, aos Dias Santos, de jogos e foguetes... fivelas enormes, cabelos grandes, cordões... os puros acanhamentos, nos bailinhos de mãos dadas... deixa eu sentir o que senti, quando pela primeira ouvi “Ouro de tolo”...
Deixa eu voltar a salvar o mundo dos malvados, como o fazia, sendo Nacional Kid ou o Super Homem…
Deixa eu ir para a janela do vizinho, boquiaberto e encantado, mirar a tv preto e branco, cheia de chuviscos, válvulas e mistérios...
“Passado é um prato, que por ter sido gostoso demais da conta, comeu-se  rápido; por isso ele é tão procurado, mas não tem mais pra repetir”. 



 

(RAS)
Enviado por (RAS) em 02/12/2020
Alterado em 19/12/2022


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