Por entre remansos e tormentas.
A alegria de um navio de partida e o medo em seguida,
Do misterioso alto mar...
A simpatia de uma janela florida, que o segredo elucida,
De um saboroso sonhar...
Duas alegrias ainda nos navegam,
Que as sinas não nos negam, as infindas idas e vindas...
Travessias que o tempo relegam e às carrancas se apegam,
Em noites turvas, infindas...
O sacolejo do mar nos desperta, aciona o estado de alerta,
E outros tragos de rum...
Cada manejo do leme, na rota certa, rota diversa e aberta,
À escolha de cada um...
À busca constante do porto seguro,
Que está no instante futuro, o viajor enlouquece...
Enfrenta os incessantes apuros,
Mistérios, marítimos enduros, à deriva, de medo padece...
Altas ondas, o sonda, em mar revolto,
Dia de rondas todo envolto, e nas horas, ora e vigia…
À espreita, os piratas estão soltos,
De tão bêbados desenvoltos! Propensos à covardia…
Há quem viva em terra a solidão do mar,
Quem em si encerra o navegar,
E se ancora de forma egotista...
Eu prefiro à rosa dos ventos me entregar,
Livre, sem ninguém para machucar...
E, às vezes, gritar “terra à vista!”...
Eu prefiro os monstros que me rodeiam,
Que os meus mares permeiam, pois sempre poderei vê-los...
E fujo mesmo dos que no Céu não creiam,
E assim, o inferno ladeiam,
A ombrear-me, não posso retê-los.
Eu prefiro me perder nas calmarias,
Do que em vidas arredias, de mal feitas amarras…
Eu prefiro envelhecer nas maresias,
Nas noites quentes, noites frias,
Que morrer em débeis garras...
Eu prefiro o escancarar das meretrizes,
Do que das outras infelizes, crivadas de segredos!
Nos cruzeiros vou acalmando minhas crises,
Nas tormentas, eu depuro os meus deslizes,
Nas partidas exorcizo os meus medos.
Como o navegar é tão preciso! É quando me realizo,
A flutuar nos sonhos meus...
Ao navegar, chego sempre ao que preciso,
Aos remansos do juízo, e ao encontro com meu Deus...