(RAS)

Nem tudo que reluz é ouro. (Mas reluz!)

Textos

A aurora e o ocaso.

Cenas se sucedem em minhas lembranças... 
E eu ali assistindo, atento, feito criança, 
Enfeitiçado pelo desenho que foi o preferido,
Pela magia e saudades dos tempos idos,
Pelas reprises arquivadas no fundo do baú das recordações... 
E, já na primeira infância, as vistas se embaçam, 
Na segunda, os amores platônicos nada, nada entrelaçam,
E na adolescência desfilam as loucas paixões, 
Embaladas por lindas e inesquecíveis canções, 
E como espinhas, os sonhos estouram, fervilhavam…
Consertar o mundo, empilhar o que desempilhavam...
Desconstruir o que os pais com amor aconselhavam...

Envolto em ilusões que se dissolvem na maioridade,
Surge, enfim, o amor palpável e com ele a assaz realidade, 
Quando dramaticamente as cenas passam mais lentas...
Tudo é só realidade e trabalho, o que era lúdico se ausenta,
E as imagens se esparsam e o tempo teimoso  não para,
O que marcou emerge e alegra, já o ruim persiste, não sara.

E chega a época das cenas, do nada, nas mentes se amontoarem,
São as experiências, dores e alegrias a ferverem e se sublimarem,
Na senil mente de alguém que, literalmente, tudo intensamente viveu:
Foi Zorro, templário, poeta, mediou o amor de Julieta e Romeu...
E agora chega o tempo de protagonizar os próprios instantes,
De se embrenhar na terna e incrível obra de Cervantes,
Onde Quixote só perde para a morte...

E nítidas imagens, num quase banzo, são exibidas pela saudade,
Lágrimas incontroláveis são de repente vertidas de verdade,
Emendam-se, cuidadosamente, as cenas, para o inevitável e derradeiro corte...
Que poderá, suavemente, chegar, 
Num bem dado e misericordioso golpe de sorte.
(RAS)
Enviado por (RAS) em 06/09/2020
Alterado em 07/09/2020


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