Frentes frias.
Jornais publicam e banalizam desgraças, a economia exibe seus gráficos inócuos, vazios, como o estômago de quem os vê e ronca. O horário é nobre e, por isso mesmo, é violentamente assaltado, pelas notícias pobres e famintas de solução.
Homens crescem em berços embalados pela desesperança, amamentados pelo seio amargo da contenda, da disputa pela sobrevivência. O câncer esparge-se e leva-nos a indagar: Com qual deles definharemos?
Mãe, as estações misturam-se e os matutas, com suas sabedorias natas, erram, porém, são ainda melhores que a meteorologia:
“- São frias as frentes, além das frentes frias...”
Nações se digladiam e denominam “Santas” as suas guerras e espera-se a todo momento um ferimento de tiro vindo da TV...
Mãe, não há mais como ser “dotô”, o desemprego valoriza as mais humildes profissões e, não raramente, a mais antiga delas... a juventude, inconscientemente, aética, busca espaços, escassos, impróprios à bela fase da vida, e jovens drogam-se perante a cobrança de uma sociedade mesquinha, senhora de conceitos asfixiantes e escrava de suas inconseqüências.
O futuro, definitivamente, não é mais o conhecimento e sim a aventura, o jogo, uma aposta, onde passa-se a vida perdendo e, quando se ganha, a vida já passou.
Gaiatos revezam-se no governo com suas siglas:
meros jogos de “letrinhas”... Resta-me a “mea culpa” por protagonizar tão absurdos cenários!
Mãe, é como se fosse aquele trem fantasma, onde quando criança chorava-se, ria-se atônito e impotente diante dos monstros, e quando se chegava ao fim, fingia-se domínio, ocultando-se o medo, o desespero, a ansiedade ante os amiguinhos “durões”.?Mas, em que pese as frias frentes e as frentes frias, o sol, como pus de um corte de faca enferrujada e cega, expor-se-á anunciando a cicatrização e quando ele se pôr, as cicatrizes amenizarão a dor de nossas consciências...
E os travesseiros amanhecerão em seus lugares...
E as fronhas não tão amassadas...