Se a saudade doer...
Quando eu me tornar apenas saudades tuas, lembra-te que estou onde me sentenciaste, cumpro na íntegra os teus implícitos desejos. Ainda flutuo nas profundezas do teu abandono, emergindo para respirar e sem motivos para voltar. Quando lembrares de mim e sentires-me distante, sentirás a força do teu arremesso… Tornaste-me um orbe cadente e sem a tua negligente gravidade, alijaste-me de teus cuidados... perdi tua órbita… encontrei o mar… Hoje não sou mais do que um reles ser abissal, talvez mais uma futura fabulosa lenda do reino de Poseidon, que em mais um mistério personificará a, às vezes doce, mas quase sempre salmoura saudade, que de quando em vez emergirá, tão somente para sobreviver no imaginário dos nostálgicos e ébrios navegantes. Agora, é a tua luz o farol para outras demandas, por sinal, muito mais relevantes e passíveis de aplausos do que os meus insignificantes clamores e infrutíferos lamentos, só audíveis na solidão envolta pelo breu do véu das infindas noites, nos abismos do alto mar, de onde insistentemente nos teus sonhos surgirei, talvez a entoar a canção que será, para o teu coração, os frios gumes de uma reativa e afiadíssima adaga. (RAS)
Enviado por (RAS) em 21/11/2019
Alterado em 21/11/2019 |