Traumas.
E quando chove e os pingos estalam nos vidros das janelas,
Não é o mesmo barulho dos encontros dos pingos com o zinco.
Hoje o suave barulho dos leves estalos, a dura melhora revela,
E as precipitações ainda trazem os ventos que arrebatam os trincos.
E esse mesmo vento há muito levou o meu medo das tempestades,
Levou a minha infância, minha inocência e as tantas inseguranças...
E trouxe-me, às duras penas, as façanhas da rude e ríspida realidade,
Enquanto sonhos de pobre menino habitam as minhas lembranças.
Esse vento andarilho, filho levado do tempo, trazedor de saudades,
Vento que derruba as cercas, os varais, varre os quintais e as ruas,
Vento impiedoso que arrasa com força as frágeis verdades,
Despetala as flores, causa-lhes dores, deixam-nas feias e nuas.
Vento que dribla o tempo na Terra, nos mares e no firmamento...
E que quando chove traz meu medo de sempre: traumas vencidos...
O vento que invade os cérebros dos homens, com dor e lamentos,
Emergem os meus medos, cujo segredo está sob sete chaves mantido.
A chuva traz cheiros do colchão de capim, de urina molhado,
Se o céu escurecia, acelerava o meu infante e aterrorizado coração,
Traz o barulho do vento arrasador a arrancar telhas do frágil telhado,
E a fazer tremer a estrutura de placas de muro do vulnerável barracão.
Hoje chove apenas lembranças dos tempos idos, das telhas caídas...
Do meu desespero a procurar o lugar seguro, para a minha família esconder,
Hoje ainda corro atrás das proteções, do abraço, das melhores saídas,
Oro pela vinda da bonança e das tempestades da vida
Sou ainda criança a correr...