O meu intrigante universo.
Há dois mundos em mim: um perceptível e palpável, aquele para o qual todo dia acordo e oro para nele sobreviver. Onde venço os instantes e todas as espécies, procrio e marco território….
Adquiro coisas, as exibo, esqueço de coisas, me revelo tolo, torto e torpe e esse mundo inicia-se nas alvoradas, numa imensa e distante avenida, num ponto de bondes qualquer, junto a outros mundos passageiros.
O outro imperceptível, o de dentro de mim, o que se tocar, dói… onde são inócuos os anti-inflamatórios, os anestesiantes, aquele que somente
eu sinto e movimento... no qual eu me dano... no qual não há cornetas, nem tréguas, nem gritos… há dores, muitas dores, num avesso em carne ainda pulsante, reduto viral... Mundo que silente e, perfidamente, degenera-me, em quereres negados,
vazios regados, sonhos em séries, feitos kamikazes abatidos…
Mundos de cânceres e cárceres, onde pago pelas ofensas, onde o tempo é abutre, a bicar-me as vísceras pelas eras...
Ainda sou dois mundos, ambos a buscar plenitude, mas sem para isso qualquer atitude, portanto, não transcendem... beiram a mesma vala e
quando caem, dividem a mesma cruz… a mesma importância…
Sou vivente de sonhos que se sonha acordado. Sonhos são-me caminhos, conduzem-me a um terceiro mundo, à espera do meu sol ou do meu caos, mas, à espera de mim...
Um refúgio, um refrigério, uma estância…
Pátria do refazimento.
O mundo de dentro de mim, comigo se finda, e faz-se, por fim, o tempo de se mergulhar no autêntico e fascinante portal... já o outrora
perceptível, talvez em alguém, quiçá deixará alguma lembrança, quiçá um pouquinho que seja de saudade… destarte, a justificar tantos intermédios e entrementes! Tantos mundos!