O porto mais seguro.
Eu sou a imagem triste e solitária de uma nau em alto mar, numa noite infinda e fria.
Estou à mercê de um mar ora revolto, ora calmo até demais,
Então a lua vem me fazer companhia, enquanto brinca de maré, às vezes balançando como um berço a velha nau, às vezes a atirando às cristas de indomáveis ondas.
É o próprio destino...
Iço as velas e espero o vento que me leve até qualquer porto,
E solto as amarras quando o mar se faz plano e o vento sopra bem longe…
A calmaria é a hora da vigília…
A imensa e traiçoeira onda se forma à revelia dos navegantes… amantíssima das negligências!
Então, eu assumo o leme em preces, que nas calmarias são remos, velas e ventos…
Assim, a nau é orientada e remada pela fé, sob um firmamento sem constelações...
O silêncio me faz ouvir cantos de sereias, as marolas que se arrebentam e alaridos de atis desavisados que já é noite…
Numa espécie de delírio, a nau prossegue e até parece levitar...
Mas lá estou eu ao relento, embalado pela lua e Poseidon… perdido em arrependimentos.
Olho ao meu redor e para dentro de mim e busco uma razão e é quando eu percebo que o porto mais próximo é o céu...