Nos abissais das almas...
Às vezes sinto a vontade de buscar os meus primórdios, até então o exórdio de uma linda canção... Então, uma teimosa e triste canção é insistentemente executada, a levar-me a uma gigantesca saudade, a saudade da minha infância... mesmo lá eu já vivia as minhas tristezas. Mas a inocência fazia-me superar tudo, só que eu não sabia que isso se perpetuaria em minha mente, passando ser parte do meu ser esse sentimento que é misto de saudade e tristeza. Os raros bons momentos que vivi, só traziam-me a certeza que eram apenas parte da dramatização desse inexplicável sentimento. A minha alegria é apenas um engodo para atrair as pessoas, mas no gráfico do que sou, a resultante é deprimente, numa constante que mostra tantas e ineficientes intervenções: noites altas... bebidas... solidão... e o indigesto demasiado vazio... Creio serem consequências de pecados de um outrora alhures... Além da solidão eu quase chego a me perder no vazio que me envolve e, por mais liberdade que eu busque, mais sinto-me preso e essa vontade incompreensível de gritar por ajuda! Tenho sonhos estranhos, onde abraço cães de rua e busco as suas simpatias, então percebo que por aquele momento eu me senti bem, pois sei que também fiz bem para aquele ser e chego a conclusão que somente a racionalidade, às vezes tão duvidosa, separam-me daquela abandonada e infeliz espécime... Como é profundo o fundo da alma... e lá é também desconhecido... um negrume indescritível, apenas negrume! Necessito de almas lanternas, almas vagalumes, almas candeias ao meu lado, às vezes não consigo ascender minha luz própria e tudo se faz imensuravelmente triste... às vezes vem a vontade de ficar sob a quentura de um cobertor e não mais sair, como lá nos primórdios, onde tinha-se tudo e muito cuidado... É tudo muito deprimente! Uma oração, um Anjo de companhia, nos desvia dos pensamentos nefastos e covardes, mas muito fortemente influenciados e só a misericórdia divina nos poupa de sermos levados aos extremos. O curioso é que quem assim se sente sabe qual é a saída, mas o problema é a força para romper essa energia maléfica que nos insere desânimo em cada átomo. O dinamismo da vida corrida, a ansiedade em cima de prazos, planos, missões, também funcionam como um remédio, quando tudo isso cessa, inicia-se a angústia, um sentimento horrível de inutilidade. Talvez já tenham diagnosticado esse amargo sentir, talvez princípio ou a própria depressão, ainda controlada, mas rapidamente alcançando o todo da alma. Mas não é justo ser tão negativo, tive sim momentos de alegrias, mas como relatado, tudo com um gosto de que só existiram, tipo, para contrastar o ditado: “depois da tempestade vem a bonança .”, no meu caso o inverso era a verdade: depois da bonança... Trata-se apenas de um desabafo o, afinal, encontro-me naqueles momentos sombrios, adentrando a madrugada fria, tanto quanto eu. Um dom que foi-me dado por Deus, o de escrever, muitos são textos agradáveis aos gostos de muitos leitores, isso é maravilhoso, mas esse ato tem o seu lado curativo, são os anti-inflamatórios, as pomadas, ataduras e os esparadrapos que estancam essa dor, que me aliviam e que me mostram que há um Deus, infinitamente misericordioso, e que nestes mais nefastos momentos, eu posso sempre contar com Ele. -Ah, essa certeza é confortante demais! E assim eu vou enchendo páginas de alguns significantes dizeres, assim consigo colocar os leitores e a mim mesmo a refletir, pois nem tudo eu atribuo à minha cognição, tenho a certeza absoluta de ser instrumento, às vezes de bons ou maus ventos, dependendo da minha sintonia, mas sempre uma pequena ou grande obra a nos fazer refletir, esse é o intento. Por fim, só espero que esse conflitante estado depressivo jamais influencie alguém, mas sim que os ajude a se prepararem, ou melhor, a orarem e vigiarem, e a entenderem tais atos como salvatérios e libertários infalíveis ! (RAS)
Enviado por (RAS) em 06/06/2018
Alterado em 06/06/2018 |