Assumir-se.
Não queiras deitar entre plumas,
Não esperes acordar na maciez,
Não deixes por razão nenhuma,
Quem por tanto sonhar te fez.
A tua fuga te lança aos braços da morte,
Os ninhos são feitos de duros gravetos,
Os caminhos são percorridos por sorte,
E o destino traçado pelos teus amuletos.
Quanto mais longe de teus reais desejos,
Mais terás corroída a tua essencialidade,
Se te entregas, do nada, a tão falsos beijos,
Mais te afastas de ti e de tua verdade...
“Os covardes morrem por mais de uma vez,
Os bravos, com dignidade, morrem uma vez só.” (1)
Não estamos aqui para sermos a rês,
Que a tudo abandona por um pasto melhor.
“Esteja motivado a passar por tuas provações.”(2)
Tudo há de ser-te provas: escolhas, lutos e festas,
Até o teu rei convincente, ombreado às razões,
Sentirá insustentável o reino que ainda lhe resta.
Da verdade não se foge entre cortinas de magia.
Verdade é a cartola donde almas pombas surgem.
As mágicas se fazem nos terrenos da ousadia,
A mágica mais linda é o amor de além nuvens.
O que se perpetua é a busca pela transcendência,
Porém há coisas das quais os homens correm:
Paixões, dores, falsos amores, solidão, demência,
Mas pelo verdadeiro amor vivem, lutam e morrem
Não há um véu de poder tamanho que cubra,
O amor que de tão antigo pelas eras vagueia.
Não há feitiços, quebrantos ou até diabruras,
Que delete o amor que o etéreo incendeia.
Não te curves ante o erro que te escraviza,
Nem te reduzas a um ser tão repugnante!
Sinta primeiro o que o teu coração precisa,
Do amor verdadeiro ou de juras farsantes?
E se insistes em te manteres assim,
Na dor solitária de incólume resistência,
Será tão triste por aqui o teu fim,
E irás lamentar tua infeliz existência...
(1) William Shakespeare
(2) Tiago 1:2