Voos traiçoeiros. 

Eu não quero doer em mais ninguém, 
Ser o fel dos alvoreceres de alguém,
Não quero ser mais kamikazes,
Matadores de outrens e de mim.
Eu não quero mais negar minha base,
Colocar nos “as” as crases,
Determinar nos lares o fim.

Acrobacias me causam enjoo,
Eu nem mesmo me perdoo,
Por voar tão mal assim...
Piruetas e rasantes,
Habilidade dos amantes,
Para uns divertimento,
Para outros tanto horror!

Eu não quero causar mais danos,
Sobrevoar os desenganos,
E aterrisar no dissabor.
Eu não quero mais
Fazer manobras estranhas,
Exibir minhas façanhas, 
Para um público expectador.
Quero um céu de brigadeiro,
Um céu para mim inteiro,
Estrelado de amor.

Eu quero decolar para a felicidade,
Deixar aqui muita saudade
E riscos de sonhos no ar.

Eu quero aterrisar em um mundo de paz,
Final de um voo, onde fui capaz,
De turbulências poder transpor.
Eu quero alçar voos permitidos,
E se sair alguém ferido,
Não seja a causa o meu amor.

A rosa dos ventos são meus pensamentos,
O meu azimute onde o amor está,
Quem quiser assim tome os seus assentos,
Vem voar comigo voos calmos, longos, lentos
Vem no pleno amor aprender planar.

O voo feliz tem a cumplicidade
Dos tripulantes que a nave conduz,
Sonho que se sonha só não será realidade,
Mas o pesado madeiro da própria cruz.