São os sonhos que nos alam.
Hoje sinto em meu rosto os sulcos pelo tempo riscado;
Hoje minhas pernas cansadas procuram, cambaleantes, assento no tempo;
Hoje, o gris de meus pelos prateia meu envelhecido corpo;
As lembranças me invadem e buscam lágrimas num pranto enrudecido.
Hoje, quase no pódio, vejo que ja corri tanto!
Que escalei árvores e nuvens e pulei os arco-íris,
Que subi morros, para lá de cima, avistar meus amores... e sempre os desci vazio...
Hoje vejo que fui passarinho, alado de sonhos
E assim atravessei céus, mares e infernos e assim fui fênix mil vezes...
“Imagine um áptero pássaro, coitado! Pois o que faz especial a tão frágil criatura são as suas asas ...”
Ao se irem, os anos depenam-me... tiram-me o sono... roubam-me os oníricos ninhos...
Assaltam-me a esperança, armados com a precisa flecha da desilusão.
Qual Icaro sonhei alto demais...
Tive os sonhos derretidos pelos efervescentes raios da realidade.
Hoje me deito nas recordações e adormeço no doce embalo de um suspiro:
Ah, meu Deus! Como sonhei desperto...
Quantas asas eu tive e quantas derreti!
Quantos ventos mudaram-me as planejadas rotas!
Mas todos os caminhos percorreram os meus desejos, disso não me queixo.
Oxalá, sejam regeneradas as minhas asas!
O homem sem sonhos não vive - simplesmente -vegeta...