Amigo: a acepção da palavra!
Ao longe ouço, e chamam-me a atenção, o ladrar alegre e insistente de uns cachorros. Pelo timbre do latido deduz-se serem cães vira-latas. Desloco-me até a janela do meu quarto e ponho-me a observar um barraco, qual túmulos, cuidadosamente caiado e branquinho,o lindo bangalô ... O acesso é uma escadaria íngrime onde o dono no início da via crucie, sobe com sacolas de compra, mas nem sempre as sacolas sobem juntas, nem sempre lhe sorri a vida. Os amigos, esses sim, depois de Jesus, são os que merecem tão digno vocativo, latem e,freneticamente, balançam as caudas e assim o fazem todos os dias. Parece que não veem o dono há séculos. Uma visão que impressiona, encanta e faz refletir. Quanta simplicidade! Quanta felicidade! Quanta sinceridade!
O dono, mesmo sabendo o quadro que o espera no interior do barraco, passa a mão e acaricia aqueles que, independentemente de tudo, sempre o receberam bem.
Quando na minha pouco aquinhoada infância, em minha casa sempre havia um cachorro ou um gato, ambos comumente em coexistência pacífica. Cachorro não faltava no derredor, na vizinhança. Então passei a vida me perguntando: - Porque o pobre gosta tanto de um cão? E após presenciar a emblemática cena, eu entendi, afinal, quem na persistente carestia, faria festa para tão desinteressantes chegadas?