O vento e o tempo.
Vento que sacode o tempo,
Vento é tempo em movimento.
Antecipa os outonos das folhas
E assopra forte as velas
Dos barcos errantes dos homens.
Vento que a nada se curva
Que com seus detritos turva
A já míope e rasa visão
Dos homens, por si, penitentes.
Vento que enverga o galho,
Impune espalha o baralho
E sopra os juízos das mentes.
Vento varre todo o lixo
Para baixo dos homens, dos bichos,
Dos tapetes de amores vãos.
Por outro lado, cada fenda, cada nicho
O vento limpa no capricho
As primas obras do cão.
Quem dirá quanto dura
O tempo que tem o vento,
Que derruba quem dependura
Nas frágeis teias dos pensamentos?
Será que o vento tem tempo?
Ou será se o tempo o atura?
Ou o vento que sopra o tempo
Ensina, nas duras sinas,
Que o tempo é a dor que depura?
O vento no tempo do pensamento,
Se apossa da essência da loucura,
Ao extremar-se nas raias do momento,
Da fúria arrasadora, ao suave sopro que cura.