(RAS)

Nem tudo que reluz é ouro. (Mas reluz!)

Textos

O revés do amor.


Agora o que faço com o que os meus olhos viram?
O que faço com as lembranças de cada encontro?
O que faço com o que cada átomo meu sentiu, com o que cada poro reteve?
O que faço com os finos e penetrantes aromas e os olhares me sorrindo?
O que posso fazer se como tatuagem cravou-se em cada parte de mim, cada parte de ti?
E agora o que faço com sua voz que teima em aparecer em cada prece, em cada música, em cada distração?
O que fazer com tantas sensações encrustadas nas paredes dos meus sentidos e do meu, agora, depreciado ser?

E veio o fim... Tornaste tudo isso tão ridículo, feio, podre, doentio até...
Cheguei a mendigar compaixão... Noites loucas em claro, de desesperos de vazios e prantos incontidos...
Jamais fui tão humilhado assim e fizeram-me sentir tão infima criatura...
E por tudo que fiz, mais uma vez, fui tratado como um arremedo de espírito que nem sei se o porco tem.

E agora o que faço ou o que entendo daquelas juras de imenso amor, com os elogios nas horas da minha agonia e que tanto me confortavam?
Ali, naqueles momentos, eu sentia deitar-me em cama envolta pela verdade, na felicidade sem fim.
O que faço e como digerir agora a promessa espontânea de que depois de mim, mais ninguém? Não sabendo ser assim mesmo, muito pouco provável pelas derradeiras demonstrações vestidas de cinismo e ironia...

Tenho ainda a esperança na afirmação de que o ódio é o amor que adoeceu, pois esse ódio é o meu câncer, o meu definhar, o meu atraso moral.
A ti resta a missão de restabelecê-lo, de na verdade apenas encará-lo.
Abandonaste-me num imenso nosocômio vazio e escuro. Fechaste-me todas as portas, outrora escancaradas e as me bateste na cara. Passo as horas aguardando a improvável visita tua, pois ainda quero acreditar que a conheço. Se é que ainda preservaste um pouco daquela mulher digna, intrépida, senhora das tuas vontades e de personalidade firme ante teus propósitos, se resta-te ainda um fiasco de verdade nos teus hoje, pra mim, dúbios discursos declarativos. Não consigo encontrar verdade neles.

O vazio, a falta de resposta, a resposta mentirosa e engendrada tão egoisticamente em ardileza,  leva-me a esse ódio e ainda a cruel dúvida se é ele curável...

Por outro lado, se eu não perdoar...
Agora serei egoísta como estás sendo até então.
Eu mereço te perdoar, se não, coitado é de mim!



 
(RAS)
Enviado por (RAS) em 24/02/2015
Alterado em 25/02/2015


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