Um Quixote à brasileira. Vou vadiar na madrugada procurando a escada para eu subir na lua e tentar não confundir o cavalo de Ogum com o dragão. Não quero montar no dragão, que dizem vomitar fogo pior que eu. Ouvirei o vento macabro varrendo as despovoadas ruas e a soprar seus uivos que para mim são sinfonias, já nem mais tão estranhos são! Esse mesmo vento aí, me empurrará incontáveis vezes, quando eu estiver me equilibrando nos vazios passeios finos e nas imensas distâncias entre postes. E no absoluto silêncio noturno ouvirei sons fazendo-me crer apoiado e cercado de atenta e confidente plateia... Então falarei feito pobre na chuva, em desvario, narrando ao léu a minha, tão-somente minha dor... Sorrirei com todos da minha sorte, pois quando o dia raiar eu não sei se irei suportar tanta tristeza, além da contumaz cefaleia, queima excessiva de glicose e sede...muita sede... Para não se repetir tal ridículo, vergonhoso e dorido, prometi a mim mesmo manter-me ébrio. E não precisa perguntar como então eu consegui... ditei esse texto. E tenho dito! Aplausos, muitos aplausos! Perdi a minha Dulcineia... e num imaginário e efêmero carnaval, literalmente dancei! E assim eu sigo pelas infindas madrugadas à procura da escada que me devolverá à lua... Sinto-me originário da lua, abduzido pela Terra, um brasileiro a digladiar com moinhos de vento, a equilibrar-se nos rotos e tênues passeios das ruas em que margeio e me marginalizo, que se assemelham ao calvário, na triste e desloucada busca por Dulcinéia, que nem almejo seja a Amélia, apenas a minha Dulcinéia... (RAS)
Enviado por (RAS) em 18/01/2015
Alterado em 17/05/2020 |