Um preito à docência.
Substituo os seus pais, lá no primário... E conserto seus garranchos com carinho E os levo a viver tantos cenários E desvendo com ludismo os seus caminhos. Lá nos seus imaginários sou um príncipe, o seu anjo, Meu salário são ideários a que me apego e tanto esbanjo, Mesmo sendo em meu ofício tudo, tudo tão precário! Por vocês de mim esqueço, me desdobro e me arranjo. Caro mestre, quem no seu aluno pensa, Não lhe tarda os positivos resultados, Pois terão por alegria a recompensa, Nos seus discentes, cidadãos tão bem formados! Então lhes vejo caros alunos, progredindo, Nas dilacerantes séries do fundamental E cada etapa com perícia vão cingindo, Fundamentando ainda mais meu ideal. Vi surgirem as suas erupções cutâneas, Mais conhecidas, vulgarmente, por espinhas Dificuldades superáveis, momentâneas, Sei que marcam, pois também já tive as minhas. Suas vozes vão mudando, os seus corpos esticando, E cada vez eu mais me envolvo... E os meus cabelos sutilmente branqueando, É o tempo implacável me mostrando, Que o velho tem que dar lugar ao novo. Agora vejo vocês no ensino médio, Na flamejante e intrépida adolescência, A esquivar-se das “quebradas”, dos assédios, Dos delitos, das “roubadas” e demências. Eis meu ofício, a conduzir-lhes ao sensato, A desviar-lhes sabiamente das falências E incutindo-lhes a importância de ser grato, Do respeito, humildade e obediência. Estranho...! Alguém me chama pelo nome... Já não sou o “tio” deles mais... É...! Eles já estão “virando” homens Homens do bem, condutores de amor e paz... Eu os vi chegarem aqui tão pequeninos... Vejam agora que linda menina, que belo rapaz! Isso mostra o que por tanto amor ensino E do que um bom exemplo é capaz. Eles já cursam agora uma faculdade E espero que irradiem o mesmo brilho. Quem sabe, um dia, essa tal fatalidade Não os tornam “tios, tias" dos meus filhos? Ser professor é deveras um sacerdócio, No entanto, uma missão gratificante, É puro amor, ardor, jamais negócio, De entregas santas, plenas e incessantes. De todos os títulos de Jesus, Mestre, foi o mais apropriado, Pois o professar é um acender de luz. Num caminho escuro a pouco iniciado. Quando paro e penso em minha profissão E com clareza vejo tanta imponência, Visualizo o valor dessa missão, Impregnado ao feliz ato da docência. Direciono, então, as minhas mãos ao firmamento E agradeço a Deus por tanta confiança, Por conduzir minha missão tão a contento, E o futuro incerto de tantas crianças! Trago à Terra um pouquinho lá do céu, Nesse mister do qual a gente não se cansa E ao invés de giz, eu uso um mágico pincel, Que aviva os corações com o verde da esperança. Eu nutro a alma das pessoas com o saber, Pois liberdade provem do conhecimento , A maior ruqueza que o homem pode ter, Sabedoria, para o seu discernimento. (RAS)
Enviado por (RAS) em 22/09/2012
Alterado em 15/10/2023 |