Vazios.
Meus momentos revezam-se entre Zeus e Hades, às vezes me vejo anjo, outros, me vejo sujo. Por vezes sinto que sou Pégasus a conduzir-te aos domínios de Medusa, outras vezes, sinto ser um inoportuno Perseu ... Às vezes sinto ser o sol a derreter tuas asas de Ícaro, por ousares alçar o egoístico voo sem mim. Há momentos que sinto ser o bem, noutros sou bem algum, há vezes que me sinto ser um bom dragão a surpreender seu algoz Ogum. Outras vezes sinto que sou Quixote vivendo seus delírios, mas que nada, Quixote contra suas miragens, sempre se saiu bem... É tudo tão ermo! Um silêncio intempestivo e inaceitável... Sinto-me uma nave desgovernada na opacidade, flutuando entre o sim e o não a buscar justificativas para tão descabidos deslocamentos! Mas, eis que “Navegar é preciso, viver não é preciso”, ainda restam os sonhos e ilusões e a eles acoplado esse insípido sofrimento. Nos vazios ecoam as lembranças que potencializam os soluços, que mesmo ressonantes, fluidificam-se em definitivo, na imensidão do enigmático e intransponível tempo... (RAS)
Enviado por (RAS) em 28/04/2012
Alterado em 16/08/2021 |