(RAS)

Nem tudo que reluz é ouro. (Mas reluz!)

Textos


“Agua para elefantes”. Uma abordagem.


A vida fascina seus viajores. A cada ato aprende-se e apreende-se uma lição. Sim, como já foi dito a vida se assemelha a uma viagem de trem. Aprendi que há mais um ingrediente a ser colocado nessa comparação, o que a torna ainda mais fidedigna, ou seja, a vida é um circo transportado por um trem, tal qual em “Águas para elefantes”. Trata-se de uma lindíssima história de amor, aliás, gostaria que me apontassem uma história de amor que não fosse linda, pode até ser triste, mas dificilmente feia. É a história de um veterinário que se apaixona pela esposa do dono do circo.
Então a vida é um circo conduzido por um trem, onde cada vagão tem sua atração, onde a trupe se reúne por afinidade, onde há mistérios e encantos.
Há momentos que você não sabe dizer se pegou ou foi pego por esse trem, mas tudo tem um porque, a partir dessa abordagem não há que se entender esse fato como se coincidência fosse e prepare-se, aí sim, para as consequências.
Hoje entendo que tudo é uma questão de talento, para representarmos fatos que os ritos em forma de “script” nos submetem. Aprendi que quem sobrevive nesse circo é quem representa bem e se adapta a cada situação e ocasião, subdivididas em vagões e em estações, nessa última, onde se monta e arma-se a lona e onde ocorrem apresentações que podem ser marcantes ou fugazes, ante os olhos de um público espectador exigente, às vezes formal até demais. Tudo é ilusão! O circo só existe por causa da paixão.
O “para sempre” poderá ser aquilo que você escolheu e jamais o que lhe foi imposto.
Aprendi, mediante grande tristeza e decepção, pois o contrário foi-me passado por ilustres representantes de minhas crenças, portanto, responsáveis por boa parte de meus valores, que o amor é eterno. Mas é justamente para não jogarmos de água abaixo todos esses valores e ensinamentos é que nos agarramos a eles e por isso temos que forjar e representar situações que não admitimos, mas que já não existem mais. Quantas bodas comemoradas às custas de um sufocante silêncio, de uma covarde acomodação, que no epílogo será cobrado e tantos amores desperdiçado por essa desfaçatez.
Assim ocorre no nosso trabalho, onde somos contrários a certas práticas, mas temos que “engolir sapos”, sermos bons artistas, para nos mantermos empregados, para fazermos jus ao injusto salário, pois só pela representação deveríamos receber o dobro. Assim também ocorre nas nossas relações interpessoais, quantas pessoas inconvenientes não se tem que aturar? Tudo é puríssima ilusão...
Aprendi, ainda, que minha culpa irá doer menos por ação que por omissão, em que pese a ação ser origem de uma reação na mesma proporção, mas é melhor pagar para ver, pois pode a ação também ser mãe de uma feliz consequência.
Tudo são sentimentos contrários. Não há como você mensurar a alegria sem ter sido tomado pela tristeza. Por isso o circo nunca vai acabar, pois restam aos homens as ilusões, que lá são magistralmente vendidas, sob a mística lona armada. O homem do corpo totalmente tatuado, anunciado como de origem siberiana, realmente é de Nova Iguaçu e a tatuagem não pode nem passar perto de água morna e como podemos acreditar tão facilmente que a mulher vira mesmo gorila? Nós aplaudimos a todo o instante a ilusão, gostamos de vê-la e vivê-la.
Quando o trem inicia o deslocamento a trupe se recolhe aos seus espaços nos vagões e é envolta pela realidade, é quando se tem notícias que a bilheteria nada arrecadou, é quando vai se recolher os estercos, é quando o palhaço se despe de sua maquiagem, é quando o estômago ronca, é quando se começa a suplicar por um número novo, uma atração principal, que os tire da mesmice, que se torne a fonte de renda que alimente a faminta trupe de entusiasmo e novidades.
No trem em movimento não há representações, é quando se fica sozinho e se vê invadido pelo remorso, surge a insônia, os homéricos e constantes pileques, a vontade de acender a luz, de ligar a televisão, de implorar pela luz do dia e procurar por fugas e fugas.
Outrora eu não entendia, e muito menos admitia, ver a imagem de um palhaço chorando, era para mim inconcebível uma lágrima nos olhos daquela figura que me provocava tantos risos! Hoje compreendo todo o significado de tão absurdo paradoxo. É uma feliz, triste síntese da vida!
Assim passamos a vida, desejando imensa e desesperadamente a chegada da próxima gare e que surja um novo número que motive mais uma atuação.
Senhoras e senhores! Sejam bem vindos! Daremos início a mais um espetáculo! Preparem-se para verem o retrato fiel em cores da vida! Comprem suas pipocas e amendoins! Atrações memoráveis e fascinantes, atuações sensacionais de homens e animais!
Tudo anunciado ao repique de taróis e com incidência de toques marciais de clarins, tudo num silêncio ensurdecedor e sob olhares ansiosos e desejosos de surpresas e os corações e mãos prontos para os aplausos... ou se decepcionarem e se cobrarem: Tudo poderia ter sido bem melhor!
É tudo muito, muito louco!
(RAS)
Enviado por (RAS) em 15/04/2012
Alterado em 29/02/2020


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