Confissões.
Há algo bem ali na iminência de, talvez, ser tão meu! Algo que exala fragrância da mais odorante flor, O perfume mais fino e açulador. Há algo bem ali, tão perto e tão distante! Há algo bem ali, que chamo de algo por causar-me tanto encantamento! Algo que amplia meu desejo de viver, Mas que torna tão ínfimos os meus dias e tão imensas as minhas noites... Há algo bem ali que, quando aparece, tira-me o sossego E submete-me a uma tortura intrínseca, a um paradoxal platonismo. Algo que me deixa a mercê de pensamentos conflitantes, Onde guerreiam o sim e o não. Há algo ali a emergir meus anseios E sinto calafrios e outros sintomas de... Sei lá o que. Há algo bem ali que me faz forte e fraco, Que fácil e eternamente de mim se adonaria. Há algo ali que tenho medo de perder, antes mesmo de ter ganhado. – Não, não vou me aproximar... Será um visgo? Um bodoque? Ou as asas que preciso? Então sorrio sem motivo, luzem os meus olhos, Assovio antigas canções, danço na chuva E visto roupa de missas dominicais. Os ínfimos dias são lindos, como quadros bucólicos em aquarelas... Comumente sou passante, entorpecido, perdido A atravessar mundos sem olhar para os lados, Pois só tenho olhos para esse excitante - algo! Há algo bem ali que ao se aproximar seca-me a boca, Aguça meu olfato, expande minha visão, assanha minha libido, Transborda-me de sonhos e quereres... Enfim, há algo bem ali que, confesso, eu tenho muito, muito medo... Ah... Mas, é um medo tão gostoso !!! (RAS)
Enviado por (RAS) em 06/12/2011
Alterado em 10/02/2020 |