(RAS)

Nem tudo que reluz é ouro. (Mas reluz!)

Textos

Imersões em um rio chamado tempo…

 

O sol queimava a pele dos moleques, em plena banca de areia,

A draga barulhenta , de forma lenta, o raso rio desassoreia.

Águas ébano, conduziam suas entidades e lendas, de carrancas à sereia…

O caboclo d’água de pelos negros, olhos negros e unhas marfim,

Fiel atalaia, puxava para o fundo os que não temiam Iara, enfim…

Ninguém com coragem de nadar a noite, desafiando aquelas fortes garras, assim…

A mãe d’água, Iara, liderava o pequeno reino de locas, submersas em labirintos sem fundos,

E eu vivia a fantasia dos contos que regiam o imaginário dos dois mundos…

O caboclo d’água que assustava, guardava os segredos do rio profundo,

Um rio de águas turvas, de remansos misteriosos, que não davam pé… 

As moitas de bambu, que causavam terror, estremeciam a minha pouca fé. 

A gata que de noite ia ali, dar de mamar a uma víbora gorda e grande…

E quando a gata não ia, a serpente espreitava as crianças, sempre as recalcitrantes.

Havia uma noiva, que a meia noite o rio descia, com estridente canto, remando uma canoa… 

Criança que tarde vai dormir e na cama faz xixi, a noiva não perdoa…

E a lua cheia refletia aquela imagem, a torná-la mais horripilante, que o grito que da sua voz soa.

Redemoinhos atraíam tudo o que ali se atrevia, ao passar à toa,

Na enchente da goiaba, o rio vazava, pois se assoreava com qualquer garoa…

Nesses homéricos cenários, eu consegui sobreviver, de boa!

Tão marcantes foram esses tempos, que é onde meu pensamento, hoje, atento, sobrevoa…

E onde o meu grito de medo, agora sem medo, naquelas enigmáticas margens ,

Graças aos céus não mais ressoa.

Apenas a dolente voz da saudade, no meu peito resiste e ainda insiste e nesse vácuo, em minha alma ecoa!!!

(RAS)
Enviado por (RAS) em 04/04/2023
Alterado em 05/04/2023


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