(RAS)

Nem tudo que reluz é ouro. (Mas reluz!)

Textos

Interlúdio: entre a ribalta e o camarim.

 

Rios seguem sem os peixes, peixes não logram viver sem os rios,

Os bares estão sempre cheios, mas na verdade, cheios de vazios.

 

As canções agarram-se aos enormes tentáculos das saudades,

Nos marejados olhos, destarte, fulgem remotas recordações, 

E perdem-se nos angustiantes vulgos mundos das possibilidades,

O que ilude, corta, inflama e desalinha, vulneráveis corações.

 

Cai a noite e a lua posiciona-se pálida, no além proscênio, 

E as estrelas ignoradas pelos homens tristonhos e cabisbaixos. 

A noite é o palco onde atua e perde-se o infeliz boêmio, 

Enquanto a bebida sobe, o astral destoa, cada vez mais baixo…

 

Os vazios tudo ocupam e cada qual o preenche a seu jeito,

Uns se isolam, uns bebem, mas no fundo todos eles choram.

Difícil matar a saudade, de um grande amor, cravado no peito,

Enquanto o coração e a solidão, pelo já tão ido amor imploram.

 

Às margens do abandono está aquele que de todo se entrega,

E também às noites frias, infindas e a prantos propensas,

Aos amigos de açodadas desventuras em vão se apega,

Se o coração comanda, são as noites tristes, vazias e imensas!

 

O sol promissor de súbito torna-se instrumento de tortura, 

O dia passa lento como um ferro em brasa pelas tênues epidermes,

O corpo em frangalhos, sofrido, a fuga e o alívio procura,

Pelas luas cheias, nas quais agem e proliferam-se os vermes.

 

Vida, vida!

Entre curas e feridas, entre remansos e redemoinhos, 

Entre adeuses de partidas, entre e o vinagre e o vinho,

Entre amargas despedidas, entre o rumo e o descaminho,

Entre as sinas a menos querida, é a amargura de viver sozinho. 

(RAS)
Enviado por (RAS) em 25/12/2022
Alterado em 27/12/2022


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