(RAS)

Nem tudo que reluz é ouro. (Mas reluz!)

Textos

Certames: quando o resultado não mais importa. 

 

     A vida passa e se passa como num jogo de damas, que trava-se nas praças, com íntimos adversários, que se igualam no tempo de pelejas.

Então, ávidos pelo início do passar das horas, de frente um para outro, sentados, coloca-se as pedras no formato inicial, que incontáveis vezes assim fora feito! Tantos instantes assim se foram!

     Cada mexida traz o desejo de se arrumar a dama e quanto mais ofensivas as mexidas, menores as possibilidades de próximas investidas, um “auto cercar-se”. 

     Mas o tempo ensina… adquire-se a capacidade de visão expandida, já se pressente os movimentos no tabuleiro, de tal forma que se ceder uma pedra ao adversário, força-o ceder duas ou mais, e abrem-se os espaços necessários aos ilusórios avanços.    Mas, o mais importante é o caminho que se abre para a breve, mas deliciosa vitória, que na verdade, já não faz mais diferença, tal qual na vida, o que importa é o durante, o ensejo. 

     Com as damas conquista-se mobilidade e amplitude e, sem olhar o rosto do adversário, já se sabe do seu próximo passo… 

     As mentes concentradas desocupam-se da fixação na aproximação do fim… e chega-se à experiência, à paciência e à serenidade, e aí descobre-se, não somente as vulnerabilidades dos oponentes, mas também a necessidade de tê-los ali, sempre por perto… 

     Eis que de tantos e tantos   certames arrojados e lances   incríveis, já passa-se a ver no outro, os seus outros eus…

     Velhos amigos são vísceras que se adquire com o tempo… quando um já não vem mais, para o sadio confronto, essa ausência faz-se insuportável abstinência, morre parte da alegria, a praça silencia mais uma vez… 

     E como as pedras no tabuleiro, os que permanecem para as pelejas, na defensiva, desviarão suas mentes a cada instante, mas na certeza que elas, de uma hora para outra, serão também “comidas”.


 

(RAS)
Enviado por (RAS) em 28/05/2022
Alterado em 28/05/2022


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