As profundas fontes das lembranças.

Recordações são recortes de bons e não tão bons momentos vividos. O que foi lançado nos mares dos tempos idos, hoje é fonte de sedentas saudades…

Um passado fatiado e colocado à mesa pelos estados emocionais, geralmente os de melancolias que contumazmente formam a nostalgia.

Tornam-se esses fragmentos temporais em poeiras ou lixos que se acumulam no leito das estreitíssimas e curtas carnais passagens… e são varridos por enxurradas ou vendavais do esquecimento, para um imenso mar… o mar das dispersas lembranças. Ali navegam as insuportáveis saudades que bebem no alto desse mar as reminiscências que as potencializam…

Os ventos e enxurradas trituram e diluem tudo no intuito de não agredirem a fluidez dos rios e dos mares, mas comprometem as suas cristalinidades. 

Qual é melhor, afinal, a já fluidez da matéria ou o seu extenso e intenso processo? Quanto mais fluídico, mais liberto, menos necessárias tornam-se as asas…

Não existe o mar de apenas boas lembranças…

Torna-se lembrança o que se deixa, por aqui, pelas vias dos ínfimos calvários humanos…

Poluem as águas doces e salgam o mar, as irresponsáveis escolhas, sonhos e pensamentos fluem em sobrevoos nesses leitos, no desejo de decantá-los, torná-los navegáveis, pelo menos…

Vive-se em buscas de asas, remos e velas e desdenha-se a fé, e a moldar tudo com vulnerável cera…

E passa-se as jornadas em busca da proteção das sombras, a evitar os ígneos verões-verdades, jazigos dos inflamáveis sonhos… e no seu durante, sucedem-se as tempestades a preencherem todos os vazios de lamas…

Somente as montanhas salvam das inesperadas enchentes…lá é o alto, onde pode-se lançar olhares mais amplos sobre as circunstâncias, capazes de mensurar antecipadamente as comprometedoras consequências.

O mar de somente boas lembranças e da duradoura bonança definitivamente não é deste mundo…

Nem todos os anjos envergam asas, há os ápteros que delas fazem jus, pelo desejo e o dorido esforço de de um dia voejar... 

As más lembranças são trilhos para os recomeços e gare para os sempre tempestivos arrependimentos. 

Nunca foi dito que seria fácil.